quarta-feira, 27 de junho de 2012

Autobiografia

            Atividade desenvolvida na disciplina de Leitura e Produção de Textos I, ministrada pela professora Juliana Strecker - atividade de Autobiografia da acadêmica Neide Mara Muller.

        É impressionante estar próximo dos quarenta anos  e sentir-se como uma criança, insegura, travessa, cheia de sonhos, enfim, cheia de vida. Parece que o tempo nem passou, mesmo que o espelho teime em mostrar-me o contrário. A parte mais incrível é a falta que minha mãe faz, mesmo depois de viver mais de vinte anos longe da sua casa. Claro que vivo bem, que sou uma adulta feliz, que constituí uma família bem bonita, sou casada, tenho dois filhos lindos, trabalho na profissão que sempre desejei e moro em casa própria. Sendo assim, tendo tudo que um ser humano precisa para viver, costumo perguntar-me, por que a maturidade é uma fase muito estranha, e por que  a infância ainda é muito presente em minhas memórias?   
          Nasci em Horizontina, no dia 16 de maio de 1974, de parto natural, na casa dos meus avós. Minha mãe chama-se Natália Rodrigues dos Santos. Do meu pai biológico, até hoje não sei nem o nome (minha mãe diz que vai revelar somente depois que morrer), claro que deve ter os seus motivos (que hoje, eu respeito sem questionar). A verdade é que o fato de ter nascido na casa da minha avó me aproximou muito dela, e toda a minha infância está cheia de lembranças e vivências relacionadas com ela. Dona Maria Flora  á  era uma senhora de muita idade quando eu nasci, mesmo assim acompanhou todas as fases do meu crescimento. Embora eu morasse com minha mãe, no interior e ela na cidade, as visitas eram constantes. Não havia nada de que eu gostasse mais do que ir passear na casa da Vó. Suas comidas eram uma delícia, seus cuidados eram aconchegantes e suas histórias...
          Nas noites de lua cheia, meus avós costumavam chamar seus netos, os de longe e os de perto, então sentávamos em círculo no terreiro, onde ouvíamos relatos de histórias vividas pela minha avó e tantas outras, que só hoje eu sei que fazem parte do folclore popular. Nesse período, com certeza, nasceu dentro de mim, o gosto mais profundo pelas histórias e pela leitura. Que saudade do carinho e dos seus ensinamentos, cada uma das suas falas, que  sempre tinham algum ensinamento! Hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo sentir o cheiro do café da manhã da sua casa e do pão quentinho que ela fazia.
          Quando mudei do interior para a cidade, já tinha oito anos, mas ainda não havia luz elétrica nas nossas casas, ninguém tinha televisão e as conversas até tarde da noite no pátio ainda faziam parte da convivência da família. A vida, nessa época, foi difícil, éramos colonos sem terra (minha família perdeu o pouco que tinha para o banco), meus pais (mãe e padrasto) não sabiam as tarefas da cidade e aceitavam todo tipo de trabalho para o sustento de toda a família pois do novo casamento da minha mãe, eu ganhei dois irmãos.
            Cresci decidida, queria ser professora, entretanto, um grande obstáculo era a falta de dinheiro. A escola de Magistério, “CRISTO REI”, era uma escola particular, com mensalidades caríssimas que minha mãe não conseguia pagar com seu salário de doméstica. O sonho era muito grande, e a vontade de ser professora maior ainda, então, decidi fazer faxinas nas tardes em que não tinha aula. Assim, ajudei a pagar todo o curso de Magistério e, em 20 de agosto de 1992, me formei professora. Sonho realizado.
         Como a cidade era pequena, não havia vagas para  tantos formandos, partir da minha terra natal era uma necessidade! Precisei buscar novos caminhos e deixar para trás a parte mais doce da minha vida. Minha mãe e minha avó ficaram lá, volto sempre que sinto saudades, mas hoje, quem está na porta da casa onde nasci é minha mãe, pois minha adorada vó já partiu, descansa em algum lugar do infinito ou, quem sabe, continua a contar suas histórias ao vento ou àqueles que param para ouvi-la.

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